por Marisol Yglesias-González, traduzido por Beatriz Sinelli e Luís Gustavo Arruda.
Desde 1972, a cada 26 de Janeiro, nós comemoramos o Dia Mundial da Educação Ambiental. Essa data celebra a importância de adotar valores amplos e princípios que atuem como guias da humanidade em direção à proteção e ao cuidado com o planeta. A participação e o envolvimento da educação ambiental em múltiplos setores, acadêmicos e profissionais, é uma demanda importante, particularmente quando estamos acompanhando mais impactos na saúde humana por conta da crise em que se sobrepõem a mudança no clima e a COVID-19, mas também com a contínua degradação da nossa Mãe Terra causada pelos modelos de desenvolvimento insustentáveis.
Vozes de profissionais de diferentes áreas estão apontando em direção a mudanças sistemáticas e de novos paradigmas de desenvolvimento que considerem os limites planetários. Isso se tornou emergente principalmente pelo setor da saúde, em que os riscos ambientais e eventos climáticos típicos do Antropoceno estão se traduzindo em mais visitas aos hospitais, gerando uma sobrecarga na saúde pública. É central que o setor da saúde continue a defender seus pacientes, mas também é essencial que eles tenham ferramentas educacionais, desde cedo na vida acadêmica, para que possam lidar com os desafios à frente.
De forma geral, o setor da saúde dispõe de forte credibilidade. Médicos e enfermeiros são altamente confiáveis. Essa confiabilidade faz com que sejam considerados importantes agentes de mobilização coletiva para tornar visíveis os efeitos da poluição ambiental e do clima em transformação. Profissionais da saúde têm uma voz poderosa, tanto para educar pacientes quanto para engajar na proteção ambiental e ação climática.

Imagem por Francisco Venâncio, disponível em Unsplash.
A realidade encontrada por clínicos ao lidar com pacientes afetados por questões ambientais evidencia a importância de estar academicamente familiarizado em tópicos de Saúde Ambiental e no campo emergente da Saúde Planetária. Em complemento, os desafios delineiam a necessidade de que os futuros profissionais conheçam também os impactos ambientais que o setor da saúde tem, como na resiliência climática necessária à gestão hospitalar, e no desenvolvimento de uma perspectiva integral que permita a eles relacionar potenciais exposições ambientais com questões na saúde. Esforços para integrar uma liderança pela Saúde Planetária dentro de Faculdades de Medicina estão começando a florescer e outras áreas acadêmicas e setores deveriam começar a ecoar essa perspectiva.
Perspectivas tradicionais sobre Educação Ambiental podem sugerir que esse campo só pudesse ser dirigido principalmente às crianças, ou exclusivamente a elas. Diferentemente, a educação deveria envolver os estudantes de forma contínua em toda sua trajetória acadêmica, incluindo o ensino superior. E é nesse esforço que a Educação Ambiental deveria se concentrar, mais do que em tópicos convencionais como desafios ambientais, qualidade e degradação. Por isso, ir além da Educação Ambiental é uma oportunidade de introduzir um novo conceito: “os humanos não estão acima da natureza e a natureza não está acima dos humanos: nós estamos interligados em um delicado equilíbrio” e é isso o que o setor da saúde já está começando a dar visibilidade.
O campo emergente da Saúde Planetária oferece a oportunidade de ir além desse escopo e toma um esforço extra: educar e sensibilizar sobre a dependência que a civilização humana tem da saúde dos sistemas naturais da nossa Mãe Terra.
Hoje, no Dia Mundial da Educação Ambiental, vamos nos inspirar pelo exemplo do setor da saúde e dos estudantes de medicina, trazendo contribuições sobre como o legado da Saúde Planetária pode se inserir na jornada acadêmica, e levar à ação em direção a influenciar a criação de desenhos circulares em cada carreira, buscando pavimentar o caminho para uma recuperação verde e um futuro sustentável.
Sobre a Autora: Marisol Yglesias é uma profissional da Saúde Ambiental da Universidade da Costa Rica e tem mestrado em Saúde Internacional pelo Institute of Tropical medicine and International Health of Charité - Berlin Medical University. Marisol trabalhou como gestora de questões ambientais do Ministério da Saúde da Costa Rica, foi consultora do Escritório Regional Europeu da OMS em tópicos como Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, mudança climática e saúde. Ela também trabalhou em projetos ambientais e de saúde pública do Médicos Sem Fronteiras na América Latina, Ásia e África. Atualmente, ela está fazendo seu pós-doutorado com o Lancet Countdown South America, é parte do Leadership Committee da PLaHNet, uma rede de jovens profissionais em Saúde Planetária e é conselheira do Conselho Regional das Américas sobre Mudança Climática e Saúde da OMS e GCHA.
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Este texto foi primeiramente publicado pela plataforma da Women Leaders for Planetary Health. Junte-se a este movimento seguindo no Twitter e no Instagram